A experiência no tratamento dos atletas, veio beneficiar o
doente comum
Fala-se de Artroscopia ou
de cirurgia Artroscópica e a primeira relação que se estabelece é com os
atletas, em particular com os de futebol. No entanto, a verdade é que esta
técnica cirúrgica está ao alcance de todos e a sua eficácia, simplicidade e
rápida recuperação pode fazer desaparecer muitos tormentos.
Quotidianamente
o termo Artroscopia, ou melhor, cirurgia Artroscópica remete-nos para os atletas,
o joelho e as lesões do menisco. Vulgarmente, são estas as três associações que
fazemos de imediato. Porquê? Porque esta cirurgia minimamente invasiva foi, inicialmente
divulgada como a cirurgia do joelho, aplicada aos atletas e para resolver as
lesões do menisco. Pórem as vantagens desta técnica são mais amplas e não se
reduzem a esta descrição.
De
acordo com a minha experiência e como Presidente de Associação Portuguesa de
Traumatologia do Desporto a relação da Artroscopia com os atletas foi estabelecida
um pouco por todo o mundo. Se pensarmos um pouco, trata-se de um individuo cuja
profissão não lhe permite estar muito tempo inactivo, sem desenvolver a
modalidade desportiva que escolheu. Neste cenário, tornava-se muito complicado
continuar a recorrer as técnicas cirúrgicas convencionais (de cirurgia aberta)
porque, pela sua agressão e morbilidade, não permitiam uma recuperação rápida.
Por outro lado, a patologia do menisco é, efectivamente, a mais frequente nos
atletas.
Deste
modo, a necessidade do atleta em querer restabelecer-se rapidamente, obrigou os
Cirurgiões a recorrerem à cirurgia Artroscópica, que lhes permitia uma agressão
mínima. As primeiras utilizações desta cirurgia para lesões meniscais criaram a
ligação, ainda hoje de certo modo mantida, entre os atletas e esta técnica.
Por outro lado a
experiência adquirida pelo tratamento nos atletas, veio beneficiar o doente
comum. Doentes que, actualmente, apresentam patologias intra - articulares (quer de carácter agudo, quer
“arrastadas“), são também candidatos à utilização da cirurgia Artroscópica.
As vantagens da cirurgia Artroscópica
Este ano comemora-se o 35º Aniversário
da introdução da Artroscopia em
Portugal. Eu sou pioneiro nesta técnica cirúrgica que começou
por ser um simples meio de diagnóstico é hoje aplicado em procedimentos
cirúrgicos que seriam, anteriormente, impensáveis, como por exemplo a cirurgia
ligamentar.
Assim, quando se fala em Artroscopia
simples referimo-nos ao acto de efectuar um diagnostico intra – articular preciso
e correcto. Por sua vez a cirurgia Artroscópica, permite solucionar de imediato
algumas patologias que outrora só se faziam com cirurgia aberta, isto porque,
ao mesmo tempo que se observa uma articulação, pode-se concomitantemente solucionar muitos problemas lesionais, referentes à articulação em causa.
As
primeiras intervenções cirúrgicas Artroscópica limitavam-se à biopsia da
Sinovial, ressecação de plicas sinoviais, corpos livres, pequenas lesões
meniscais e, posteriormente, ao tratamento das lesões da cartilagem. Apenas por
volta dos Anos 80 é que se desenvolveu a actividade cirúrgica para tratamento
da lesão dos ligamentos cruzados anterior e posterior.
Para
mim fundador e 1º Presidente da Associação Portuguesa de Artroscopia, em 1994, a
Artroscopia veio revolucionar, de forma positiva, o mundo da saúde

A
cirurgia Artroscópica é feita com a introdução de aparelhos ópticos em
orifícios com cerca de 4
milímetros . Após a cirurgia, a marcha é permitida sem
canadianas e não requer qualquer imobilização, o que dá a possibilidade ao
doente de ter alta no próprio dia, sendo a recuperação funcional mais rápida.
O
reflexo em termos de vantagem económico para o País também é evidente. “A Suécia, alguns anos atrás, fez um
estudo económico e verificou que a poupança, nesta área da saúde, era de
milhões de dólares com a aplicação desta técnica nas lesões meniscais” . Em Portugal, julgo não existir este estudo,
mas sei que existem muitos doentes em lista de espera para efectuar esta
técnica, podendo ser efectuada em regime de ambulatório.
Em
termos de resultados, é algo que depende muito da patologia em si e da
experiência do Cirurgião. Quando se domina bem a Artroscopia, conseguem-se
muito bons resultados, ao ponto dos doentes se questionarem se foram operados.
Na Artroscopia do joelho, por exemplo, o tempo médio cirúrgico ronda os 15 a 20 minutos. No caso de
outras articulações, o tempo é um pouco superior.
A Evolução e Aplicação da Técnica
Sendo eu o pioneiro em
Portugal nesta área com cerca de 10.000 Artroscopias feitas, outros me
seguiram, aprendendo comigo ou frequentando cursos noutros Países.
A
potencialidade desta técnica é substancial e não se reduz ao joelho e as lesões
meniscais. O ombro, o tornozelo, o punho, cotovelo e as ancas são outras áreas
de intervenção, podendo ser possível tratar de várias patologias.
Deste
modo é correcto dizermos que, hoje se tratam patologias, quer estas sejam decorrentes
da actividade desportiva ou não. Na artrose, a Artroscopia, pode, em certas
circunstancias, adiar uma cirurgia mais agressiva, nomeadamente as
Artroplastias.
Por
ultimo, e sobre o futuro da cirurgia Artroscópica, considero que, de certo
modo, a grande evolução vai recair no
aspecto tecnológico, mas devemos fazer mais formação para que a técnica seja
bem executada para benefício dos doentes.
Aplicações da cirurgia Artroscópica
·
Joelho
- Lesões
do menisco
-
Lesões da cartilagem
-
Reconstituição do cruzamento anterior e posterior
-
Instabilidade da rótula
-
Algumas fracturas articulares
-
Corpos livres
·
Ombro
- Instabilidade anterior
- Lesões da coifa
- Conflito subacromial
- Corpos livres
- Lesões do labrum
·
Tornozelo
-Corpos livres
- Sinovite
- Lesões da cartilagem
- Fracturas osteocondrais
- Impingment Anterior ou
lateral
·
Punho
-Instabilidades
-Lesões
do ligamento triangular
·
Cotovelo
- Corpos livres
- Lesões da cartilagem
- Sinovite
·
Ancas
- Lesões da Cartilagem
- Corpos livres
- Sinovite
José Mário Beça
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